Desde a polêmica da vez em que
jogaram uma banana para o jogador Daniel Alves durante uma partida de futebol,
em razão da cor da sua pele, uma multidão de fãs do jogador lançaram a Hashtag
#SomosTodosMacacos . Outra vez uma pesquisa da IPEA (de caráter bem
tendencioso, diga-se de passagem e que depois foi desmentida pelo próprio instituto) causou a indignação ao supostamente revelar
que mais da metade do povo brasileiro era favorável ao estupro, gerou outra
Hashtag: #EuNaoMereçoSerEstuprada. Para além de legitimar o conteúdo destas
hashtags de protestos que crescem dia a dia nas redes sociais, me diverti ao
pensar o quanto seria proveitoso se no meio cristão alguém lançasse a campanha:
#SomosTodosSacerdotes.
Não é incomum no meio gospel
ouvirmos frases como “Não toqueis no ungido do Senhor” se referindo ao
falatório de pastores de honestidade duvidosa, histórias de pastores que abusam
de suas ovelhas financeiramente e em alguns casos até sexualmente (Vide o Pastor Pedreiro) e pregações como esta do Silas Malafaia, em que ele orienta o
seu rebanho a não acusar o seu pastor, mesmo que ele seja um ladrão. Todas
estas concepções mostram uma visão extremamente idólatra que muitos
crentes em Deus têm de seus pastores, esquecendo-se de que eles são gente como a
gente, e colocando-os em uma posição de intermediários de seu relacionamento com Deus.
É claro que os pastores têm
uma importância fundamental para a igreja local. Juntamente com os presbíteros,
são eles os responsáveis pelo ensino na igreja, pelo direcionamento espiritual
das ovelhas e pela organização eclesiástica. O pastorado é desta forma uma
vocação legítima, boa e agradável a Deus, bem como expressa nas escrituras. Os crentes devem sim se sujeitar à
autoridade do pastor e dos presbíteros naquilo em que eles possuem autoridade. Onde então se encontra o
problema? Primeiramente eu vejo que em muitos destes casos o problema está nos
próprios pastores, que abusam de sua autoridade para tentar lucrar em cima de
sua congregação, ou para dominar sobre esferas da vida das pessoas que não lhe
dizem respeito. Um segundo problema é que nós perdemos uma dimensão da
doutrina cristã reformada, que deturpa a imagem que nós temos de nós mesmos e dos
nossos pastores: O Sacerdócio Universal de Todos os Crentes.
A doutrina do sacerdócio
universal coloca os crentes em pé de igualdade uns com os outros. Não há maior
e menor no Reino de Deus sendo que todos nós podemos nos colocar diante de Deus
como sacerdotes. Estamos todos nós, o tempo inteiro e em qualquer atividade perante Deus. Desta forma, a reforma protestante revolucionou os conceitos
da religião medieval abolindo o fosso que separava o clero dos fiéis, e
tornando todas as vocações dignas diante de Deus. Assim, o pastor na visão da
reformada não é um sacerdote que serve de mediador espiritual entre Deus e os
homens, mas um cristão com profundos conhecimentos teológicos e bíblicos e que
está apto para ensinar e aconselhar os fiéis e a ajudar a governar a igreja
local.
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No antigo testamento, o
Sacerdote tinha a função de mediar o relacionamento entre Deus e o povo. Ele
deveria ser da tribo de Levi, e era responsável por fazer os sacrifícios e
orações a Deus bem como ensinar ao povo sobre a lei de Deus. No novo
testamento, vemos uma visão diferente o oficio sacerdotal, onde Jesus Cristo é
visto como o nosso sacerdote. Todas as funções do sacerdote no antigo
testamento foram cumpridas n’Ele, e transformadas por Ele. Desta forma, Jesus é o único mediador entre
Deus e os homens (1Tm 2.5), tendo cumprido na cruz a redenção necessária para
que nos achegássemos a Deus, sendo ao mesmo tempo sacerdote e sacrifício.
Mas então, se Jesus é o
nosso sacerdote, como nós podemos ser também sacerdotes? O novo testamento nos diz
que em certo sentido, nós também somos chamados a sermos sacerdotes diante de
Deus. “Também vós mesmos, como
pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo,
a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por intermédio
de Jesus Cristo” (1 Pedro 2.5). Somos agora sacerdotes diante de Deus, e nosso
sacrifício deve ser a nossa vida, expresso em gratidão, louvor e boas obras.
Este sacerdócio se expressa na nossa missão de anunciar o evangelho a toda
criatura, e de cumprir o mandato cultural. Ele também se expressa de modo
comunitário, sendo todos sacerdotes, podemos então instruir uns aos outros em
amor. Ser sacerdote implica necessariamente em serviço.
Desta
forma, é possível ver como a doutrina do sacerdócio traz implicações práticas
para a vida cristã e para a igreja. Somente resgatando este princípio bíblico é
que podemos resgatar também a nossa identidade e a nossa missão no mundo de
modo mais pleno: Em cada crente um sacerdote, um servo, um missionário.
#SomosTodosSacerdotes.
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