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Jan van der HEYDEN (1637-1712) Delft |
500 anos da Reforma Protestante que abalou o mundo. Mas em que medida
será que o mundo foi abalado por ela? Está aí algo que é preciso ser avaliado
pela nossa geração, que recebeu a Reforma como um legado.
Nos últimos 500 anos o mundo mudou bastante. Por um lado, porque a Reforma,
que começou em alguns pontos da Europa, espalhou-se por lá e também ganhou
terreno fértil nos Estados Unidos. E por muito tempo essa porção norte do mundo
foi o coração pulsante do cristianismo. Era ali que as coisas aconteciam. Só
que o mundo se tornou mais secular nessas regiões. A fé vibrante se esfriou por
conta do liberalismo e deu lugar à apostasia. O secularismo que toma conta do
mundo ocidental tem se mostrado extremamente relativista e criado uma geração
sem referenciais absolutos.
Por outro lado, o coração pulsante do cristianismo tem se deslocado
agora para o sul global. Na América do Sul e na África, o cristianismo tem
crescido cada vez mais – sim, com muito joio em meio ao trigo, mas
definitivamente é uma igreja em ascensão. A Coreia do Sul é a terceira maior
força missionária do mundo e o país mais protestante da Ásia, em números
relativos. Apesar de o cristianismo na China ser pequeno em relação ao número
de habitantes, é a religião que mais cresce no país – há quem diga que será, em
poucos anos, o país com mais cristão em números absolutos.
Contudo, a região da chamada Janela 10/40, que se estende do norte da África
até boa parte da Ásia e do Oriente Médio, é a região menos evangelizada do
mundo. Coincidentemente é onde ficam quase 2/3 da humanidade e o berço das três
maiores religiões depois do cristianismo: islamismo, hinduísmo e budismo.
Também é o lugar com os menores índices de desenvolvimento humano do mundo. Ou
seja: um mar de idolatria, perseguição e hostilidade.
O mundo também mudou no aspecto tecnológico. Na época da Reforma
tínhamos a prensa gráfica de Gutemberg e algumas estradinhas que interligavam a
Europa – e os navios despontando no horizonte da expansão do mundo conhecido.
Hoje vivemos em um mundo globalizado, onde tudo é conectado com um clique e é
muito mais fácil se deslocar entre países. Grande parte da população está migrando
para grandes cidades, fato que gera mais conexão, porém também mais problemas
urbanos e sociais.
Resumindo: estamos num mundo onde o cristianismo agora tem sua principal
expressão em países menos influentes no cenário mundial. O Ocidente é secularizado
e relativista, o Oriente é extremamente hostil e fechado e o mundo, no geral, é
hiperconectado.
À luz desse quadro podemos pensar o que significa ser reformado nos dias
de hoje e o que fazer com o legado que nos foi dado. Aqui é preciso resgatar um
conceito muito importante: a missionalidade. Ser missional é encarar esse
legado de fé que temos como um compromisso com o testemunho cristão em todas as
áreas da vida, e em todas as partes do mundo.
Explico: temos um desafio enorme de impactar a nossa geração e a cidade
em que estamos. Temos o desafio de pregar, no nosso caso, em uma sociedade com
moral baixa, de relativismo, e de ser testemunha de Cristo, pregando o
evangelho que nos foi dado. Esse desafio é obrigação de todos os crentes, pois
somos todos eleitos para anunciar a glória de Deus. Mas também temos o desafio
de olhar para o mundo, para aqueles que nunca ouviram o evangelho de Cristo,
para terras distantes e também sairmos a pregar o evangelho lá, pois nos é dito
que Cristo será anunciado entre todos os povos!
Diante desses enormes desafios, temos também enormes possibilidades!
Lutero e Calvino se utilizaram da prensa gráfica para disseminar suas ideias e
impulsionar a fé reformada. Ouso dizer que a prensa gráfica foi instrumento de
Deus para a manutenção da Reforma da igreja. Do mesmo modo, hoje, temos uma
facilidade tecnológica que nos abre um mundo de possibilidades, tanto em termos
locais quanto em termos mundiais. Talvez seja a hora de ver que a tarefa é
grande, e por isso ir além de fronteiras geográficas: a igreja é a Igreja de
Deus, independentemente de sua nacionalidade, e os cristãos de vários países podem
carregar os fados uns dos outros.
Isso nos leva a pensar, como igreja, no nosso desafio de “ir e pregar a
todo o mundo”. Temos que começar a olhar para os povos não alcançados e enviar
missionários a esses campos. Precisamos ser resposta também para os lugares
marcados pela secularização, clamando por um avivamento nessas terras. Também
precisamos aceitar o desafio de reformar a igreja em nossa própria nação, onde
as heresias e a ganância de uns destroem a boa fé do povo.
Ser reformado no século 21 é isso tudo e mais um pouco. É ter um rico
legado do passado, em um mundo que definitivamente não é mais o mesmo. Mas o
chamado de Cristo permanece o mesmo. Que com a graça de Deus possamos cumprir a
tarefa que Deus legou à nossa geração!